>Tratadas como lixo e “subvivendo” do lixo

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Quebrando por um momento o tom sempre bem humorado das postagens do blog, em mais grave tom me sinto como que obrigado a falar sobre um assunto nada agradável e ainda menos engraçado.
Há poucos dias atrás li uma notícia que me deixou indignado, não como fosse alguma espantosa exceção que fugisse ao que, lá e cá, ainda é bastante comum, mas por isso mesmo se fez ainda maior a minha indignação; e eis o que dizia a nota:
“Ministério Público do Trabalho de Alagoas flagrou 40 trabalhadores submetidos à situação degradante e análoga à escravidão em um galpão onde é feita a seleção de lixo plástico para reciclagem em Arapiraca (122 km de Maceió). Os trabalhadores, em sua maioria mulheres, separavam materiais plásticos sem equipamento de proteção individual como luvas, botas ou máscaras.
“Uma das trabalhadoras apresentava um corte profundo em uma das mãos, o que eles relataram ser bastante comum. Outras tinham germes e sujeira na pele. As instalações sanitárias eram inadequadas e sujas e o cheiro no galpão, insuportável. Os trabalhadores não tinham carteira assinada nem direito a férias ou a 13º. O pagamento era feito por produção. A empresa pagava R$ 0,20 por quilo de material plástico recolhido, sendo que a remuneração nem sempre atingia um salário mínimo”.
É inadmissível deparar-se com notícias como essas ainda hoje. Pessoas sendo tratadas como lixo, “subvivendo” do lixo e, algumas vezes até mesmo, vivendo no lixo!
Na hora presente, em pleno século XXI, em meio a tanta modernidade e discussões sobre humanismo, ver-se seres humanos, como ratos imundos, sendo obrigados a encontrar no lixo – muito diferentemente de um trabalho digno de reciclagem – o seu ganha pão tão suado e sangrado; um pão que na verdade é resto alimentar de outras pessoas, que é o lixo que elas não querem e que jamais quereriam para si; pão que em geral serve a alimentar os animais carniceiros!
Afora todas as teorias de ergonomia, segurança e bem estar no trabalho e aparte de qualquer lei trabalhista, essas pessoas então, enquanto remexem no lixo, sacodem como a poeira dos tempos e são coercivamente regredidas à era medieval, sob um sistema feudal de trabalho; este, subumano.
Após a constatação do crime, a Procuradoria do Trabalho entrou com uma ação contra a Fábrica de Artefatos de Plásticos Imprima Ltda. e a Imprima Gráfica e Editora Ltda., do grupo empresarial responsável pela contratação dos trabalhadores, com pedido de bloqueio e indisponibilidade dos bens das empresas e de seus sócios, no valor de R$ 500 mil. O dinheiro deverá ser usado para eventualmente pagar indenizações por danos morais coletivos e nas rescisões trabalhistas.
A história teve ao menos um fim esperado, mas certamente não há nada que pague ou apague os efeitos adversos das agressões física e moral sofridas.

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Observador; Analítico; Crítico; Excêntrico; Seco; Molhado; Eloquênte; Adstringente. View all posts by fredlofia

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